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Raimundo Machado de A. Neto, estudante de Jornalismo da Faculdade 7 de Setembro.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Propina era distribuída com hotéis, carros e tanque cheio

Investigação sobre rombo no Dnit descobriu que construtoras bancavam hotéis, passagens aéreas, veículos e combustível para acusados

Buracos da BR-222 e o esforço do motorista flagrado fora da estrada. Lugar por onde o dinheiro do Dnit não passou  (DEIVYSON TEIXEIRA)

Os carros eram um agrado. Estavam sempre à disposição, de vários modelos e para qualquer fim. Tinham tanque cheio e reabastecimento garantido. Nos hotéis, bancados por fins de semana seguidos, hospedagens com a respectiva esposa ou alguma acompanhante, com a devida discrição. Passagens aéreas? Quando precisaram, foram dadas também. Almoços? Descobriram dois, mas talvez tenham sido mais.

Para tudo isso, que a Polícia Federal e os próprios relatórios da Controladoria Geral da União (CGU) chamaram de propina, houve o valor detalhado e onde foi obtida a prova do crime. É um mapa minucioso de todo o trajeto da corrupção estabelecida entre servidores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e as empreiteiras que realizavam obras nas BRs cearenses. Ontem, O POVO revelou, com exclusividade, que o rombo no Dnit-CE chegou a R$ 27,8 milhões, segundo a CGU. Valores contabilizados a partir de contratos fraudados ou mantidos sob irregularidades e em propinas que eram repassadas a quem ajudava no esquema.


A PF apreendeu muito mais desse propinoduto entre as agendas e bilhetes das secretárias das construtoras, nos pendrives, notebooks, HDs, CDs e DVDs e nas residências dos envolvidos com o escândalo. Um ano depois do caso descoberto, através da Operação Mão Dupla, todo esse material integra dois processos que tramitam na Justiça Federal: uma ação cível de improbidade administrativa, na 1ª Vara Federal, com 18 pessoas e nove empresas como denunciados; e uma ação penal, que corre na 11ª Vara Federal, com cinco réus.


Dinheiro vivo

Em relatórios da CGU, assinados pelo controlador regional (substituto) Alexandre Landim Fialho em fevereiro passado, é dito que as cinco construtoras investigadas praticavam o “pagamento de propinas em dinheiro e sob a forma de custeio de despesas diversas para os engenheiros do Dnit-CE”. Eram cédulas e benesses a quem fosse relevante no órgão. Oito servidores são citados, mas nem todos ainda estão incluídos como réus na ação penal. Por isso, nesse trecho da apuração, os nomes não serão revelados pelo O POVO para não atrapalhar as investigações.

Nos pagamentos indevidos em cash, dinheiro vivo, valores rastreados que variavam de pouco mais de R$ 500 até R$ 12 mil. Denúncia confirmada pelas anotações nas agendas das secretárias das empreiteiras. Numa delas, datada de setembro de 2004: “Emergência BR-020 R$ 10.100,00” e o nome do engenheiro responsável (ou agraciado). Nesses papéis apreendidos, a polícia conseguiu comprovar pouco acima de R$ 34 mil repassados. Só de uma construtora.


Na lista das “despesas com combustível” – igualmente nominadas de propinas pela CGU e PF -, 56 pagamentos que somaram R$ 25.262,52. Somente no intervalo entre 20 de janeiro e 20 de fevereiro de 2010, uma picape Hilux usada por um dos servidores chegou a ter um abastecimento bancado de R$ 1.421,85. O mesmo veículo (placa repetida 14 vezes no relatório) somou mais R$ 10.139,65 de combustível no período entre abril/2009 e junho/2010. Coisa para queimar muita quilometragem.


A investigação dá descrições de que a propina era mesmo parte da rotina dos acusados. Nos veículos que ficavam à disposição dos servidores assediados, foram descobertos pelo menos 33 contratos de locação de uma construtora. Nas faturas que puderam ser juntadas à documentação probatória, o valor totaliza R$ 177.278,09. Mas há várias locações sem valor apontado. A filha de um deles teve um veículo disponibilizado – por pelo menos duas semanas, em 2009.


A CGU relata que 43 hospedagens foram “oferecidas” para os servidores do Dnit-CE investigados. No saguão, chegavam sós, com familiares ou com “sua acompanhante” (termo usado no relatório). Numa estada de 4 a 6 de julho de 2010, o hóspede teve despesa de R$ 1.517,00. Só ele teve 25 dessas hospedagens cobertas pela construtora. Com e sem acompanhante. A maior delas durou cinco dias.


Reforma e pneus

Para outro servidor, as passagens aéreas pagas também para a esposa, ida e volta a Recife, estão na mesma data da entrada e saída no hotel da capital pernambucana, de 5 a 6 de junho de 2010. Outro achado nas agendas apreendidas. Um dos servidores denunciados, casado, chegou a ser rastreado em gastos indevidos com mais de uma amante – uma delas também seria funcionária da construtora. Uma reforma na casa da mãe de uma delas teve material de construção doado por uma das empreiteiras. E a namorada ganhou até pneus novos para o carro dados pela construtora.

FONTE: JORNAL O POVO

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