A sociedade dos dias
atuais mostra que precisamos aprender a conviver com as diferenças e as
dificuldades dos outros, principalmente, aqueles que têm algo bom para nos
contar. Foi com esse pensamento que conheci Ribamar Felipe Souza Miranda, um
jovem rapaz de 24 anos que é produtor musical, nascido na cidade de Fortaleza,
filho de: Luziane Pereira Miranda e José Arribamar Miranda.
Felipe
não tem uma formação acadêmica concreta, mas estudou até o Ensino Médio com
muito suor e sacrifício no colégio Arquiteto Rogério Froiz. Mas sua
grande paixão, sempre foi a música e começou a tocar aos 14 anos, sendo hoje considerado
um dos maiores produtores da cena cearense no estilo Hip-Hop e Rap.
Felipe fez um disco que
demorou cerca de 1 ano para ser lançado na mídia. Lançado em Setembro de 2011,
no Centro Cultural Dragão do Mar, conseguiu vender mais de 2.000 cópias em um
curto intervalo de tempo. Pelo reconhecimento de seu trabalho, ganhou prêmios
internacionais pela rede norte americana de televisão MTV.
Apesar do sucesso,
Felipe nasceu de uma família humilde, e seus parentes viviam no mundo da
criminalidade. A vida não foi fácil para esse músico, que em alguns momentos já
pegou um revólver nas mãos, mas jamais teve coragem de praticar um crime, pois
sua consciência era maior do que tudo. Para ele, “chegar antes do revólver, é
ter um microfone”, afirma. Seus irmãos contaram-me que todos já passaram fome,
não tinham moradia fixa e condições de sobrevivência muito adversas.
Além da fome, Felipe
relata que chegou a “catar latinhas”. Isto é, costumes de uma pessoa que não
tem condições de ter mordomias como as que muita gente de classe alta possui.
Para ele sua infância, apesar de ter sido sofrida, foi muito boa.
“Discordo do sistema capitalista, o dinheiro é
desumano demais. Felizmente, o que me guia é a minha família, meus parentes e,
principalmente, meu pai que atualmente é pastor em uma igreja evangélica – a
Assembleia de Deus.”, diz Felipe. Seu pai foi detido e seu irmão, era um
ex-presidiário.
“O rap e a música em geral é a transformação
da minha raiva em poesia”, diz Felipe com um sorriso alegre no rosto e muito
satisfeito em nos conceder esta entrevista.
A família dele costumava
praticar crimes e assaltos na Grande Fortaleza. Hoje, todos saíram desta
situação. Felipe criou diversos projetos e é atualmente um grande compositor e
criador de “rimas”. Apesar de ter conhecido, não se envolveu com uma das drogas
mais perigosas da atualidade e que é retratado a todo instante em programas policiais:
O Crack. Suas inspirações surgiram a partir do momento em que ele começou a
conhecer as obras do escritor Carlos Drummond de Andrade e a ouvir as músicas
das bandas de Rap – Racionais e Facção Central. E, com a chegada da Internet e
através do YouTube, começou a escutar Caetano Veloso, Elis Regina, Chico
Buarque, dentre outros. As comunidades do Mucuripe e da Zareia, esta última,
localizada próximo ao Sistema Verdes Mares de Comunicação, afirmam ter Felipe
como exemplo.
Seu trabalho é feito em
conjunto com outros produtores da cena e é baseado através da utilização de
programas profissionais de edição.
Várias pessoas já se
emocionaram com seu trabalho, assim como eu. Sua definição de vida é fazer
história. “Na poesia eu renasci”, diz Felipe.
Felipe mora na Praia do
Futuro, bem próximo ao Colégio Municipal Frei Tito. Encontrei-me com ele neste
local, e muito atencioso ele me leva até sua casa onde lá, entrei no seu quarto
pequeno e apertado e começamos a fazer a entrevista. Senti nervosismo no
começo, como todo iniciante da área jornalística, mas respirei fundo, e no
final percebi que a vida SEMPRE será feita de desafios.
Pedi para ele explicar
quais eram suas metas atualmente e me disse que pretende ter uma casa própria e
se casar dentro dos próximos 4 anos. Ele sempre pede para seus pais não se
preocuparem com ele, pois o que ele mais quer é dar conforto pra sua mãe.
“Considero minha mãe uma guerreira”, afirma o produtor. Continuando ele ainda
diz: “Fazer música é colocar o sentimento no papel”.
Fiquei mais satisfeito
ao encerrar a minha entrevista, quando recebo carinhosamente um presente dele:
um livro com histórias de pessoas que vivem na periferia. O livro: Pelas
periferias do Brasil – Volume 5, foi idealizado por Alessandro Buzo, de São
Paulo, amigo de Felipe.
Felipe me relata que já
viajou para a Argentina e emocionado me conta que lá sofreu muitas
dificuldades, mas hoje além de Produtor Musical, ele tornou-se Produtor de
Eventos e vive bem.
Meu sonho era ser
bandido (Passado). Hoje o meu maior sonho é ser um vencedor (Presente), explica
o jovem com bastante clareza. “Queria conquistar dinheiro que não fosse pelo
tráfico, e não é que acabei conseguindo!”
Concluindo, Felipe Rima
(de acordo como é ele é conhecido) é um excelente exemplo de superação para as
pessoas. Estou orgulhoso de tê-lo entrevistado.
Considerações finais
Este trabalho foi
desenvolvido com o objetivo de ajudar aos futuros jornalistas a ter experiência
de trabalho extra-classe, convivendo com a realidade dos fatos, apurando
informações, conseguindo fontes excelentes como a de Felipe. Eis que me sinto
realizado de ter feito esse trabalho e ter seguido os conselhos da Professora
Vânia Tajra. Fica aqui registrado, meu agradecimento a Ana Aline e Nadya, ambas
são líderes comunitárias na região do qual entrevistei Felipe. Sem a indicação
delas, não teria a capacidade de ter chegado até o meu entrevistado. Meu
muitíssimo obrigado a todos! Finalizo aqui com as palavras de Felipe que me
emocionaram bastante.
“NA
POESIA EU RENASCI!”